AFETOS
(JONATHAN EDWARDS – 1703-1758)
Minha resposta é que afetos são os exercícios mais vigorosos e práticos da inclinação e da vontade da alma. Deus dotou a alma de duas habilidades. Uma é a capacidade de percepção e especulação para discernir, ver e julgar. Isso se chama entendimento. A outra habilidade é que alma não apenas percebe e vê, mas, de alguma forma, se inclina na direção do que vê ou avalia. Tanto pode se inclinar para aceitar quanto para rejeitar o que viu. Devida a essa habilidade, alma não quer permanecer como espectador indiferente e impassível. Gosta ou não gosta, se agrada ou não se agrada, aprova ou rejeita. Essa habilidade se chama inclinação.
Quando determina e governa as ações, se chama vontade. Quando a mente entra no processo, a inclinação costuma ser chamada de coração.
Há duas formas de exercitar a inclinação. A alma vê alguma coisa com aprovação, prazer e aceitação, ou com oposição, desaprovação, desagrado e rejeição.
Esses exercícios da inclinação e da vontade da alma variam de intensidade. Alguns chegam perto da indiferença, mas há graus onde aprovação ou desagrado, prazer ou aversão são mais fortes. Quando a alma reage com vigor e força, o exercício é ainda mais intenso. Na verdade, o criador ligou o corpo à alma, de modo que até a vida física pode ser afetada por tais emoções. Em todas as culturas e tempos essa habilidade tem sido chamada de coração. São os exercícios vigorosos e sensíveis dessa habilidade que chamamos de afetos.
Assim, vontade e afetos da alma não são elementos distintos. Em sua essência, os afetos não são separados da vontade. Diferem dela apenas na vivacidade e sensibilidade de exercício, não em sua expressão. Algumas vezes, a linguagem é inadequada, pois o significado das palavras tende a se perder e se tornar vago, sem definição exato no uso comum. Em um sentido, afetos da alma não diferem da vontade e da inclinação, mas em outros aspectos, o ato de vontade e inclinação não pode ser chamado de afeto, por que em tudo que atuamos, quando agimos voluntariamente, há um exercício da vontade e da inclinação. Nossa inclinação difere nossos atos, mas nem todos os atos de inclinação e vontade são chamados de afetos.
A diferença entre o que é afeto e o que não são chamados de afetos. A diferença entre o que é afeto e o que não é reside apenas na intensidade e na forma da ação. Em cada ato a vontade gosta ou não gosta, aprova ou rejeita. Isso em essência, não é diferente dos afetos de amor e ódio. Na verdade, a apreciação ou inclinação da alma em direção a alguma coisa, caso seja intensa e vigorosa, é o que chamamos de afeto de amor e o que mesmo grau de rejeição e desaprovação é o que chamamos de ódio. Assim o que cria o afeto é o grau de atividade da vontade seja a favor ou conta um determinado elemento.
(extraído do livro, UMA FÉ MAIS FORTE QUE AS EMOÇÕES, ed. PALAVRA, pg. 43 e 44, UMA JOIA QUE ADQUIRI NA ÚLTIMAVISITA À EDITORA ULTIMATO)