Estava em uma roda muito estimulante noutro dia, falando sobre o cuidado com nossos pais e me lembrei deste texto. Acho legal compartilhar com voce. Se tiver algo semelhante, uma experiencia, posta aí. Vai enriquecer muito.
DIFERENÇA ENTRE ALZHEIMER E O MAL DE ALZHEIMER
Você já leu ou assistiu a uma reportagem sobre o Alzheimer. As estatísticas mostram que muitos dos nossos queridos na terceira idade estão sujeitos, ou propensos ao mal e quanto mais aumenta a possibilidade de longevidade mais próximos desta experiência que se torna dolorosa para os que estão em volta.
PS. Continuo sem saber a diferença entre um e outro; meu pai faleceu meses depois deste texto ser terminado.
Mas você saberia diferenciar as expressões acima descritas? Não encontramos definições específicas em dicionários. Esta distinção é percebida na vida. Estou em processo de descoberta da sutil diferenciação.
Vi um filme nestes dias, (Irís) narrando a história de um casal em que a mulher no pico do reconhecimento do seu trabalho, diante de uma câmera de TV em um programa ao vivo, simplesmente não consegue associar idéias para responder a uma pergunta sobre o seu próprio livro. À partir daí, a síndrome começa a se manifestar em suas particularidades. Mas não era o Mal de Alzheimer. Era apenas Alzheimer. Mal de Alzheimer é quando estou perto de uma pessoa que está desenvolvendo a crise. Quando participo da vida dela. Quando estou junto. É quando vou visitá-la, e passo pelo menos mais de sessenta minutos junto dela. Vendo pelo vídeo é apenas Alzheimer. Não há mal nenhum.
Alzheimer é quando sei que um parente está tendo pequenas perdas de memória. Mal de Alzheimer é quando eu o acompanho ao Geriatra e ele me mostra os detalhes na radiografia. Seu cérebro está sendo consumido e as funções vitais de cada elemento paralisado deixará de funcionar.
Alzheimer é quando sei que o pai de minha paciente está com a função de engolir, engolida. Fizeram um buraco no seu pescoço para a comida descer. Nunca mais ele vai sentir sabor nem engolir nada. Mal de Alzheimer é ver o meu próprio pai com um docinho na mão tentando levá-lo à boca, mas morde o dedo em três tentativas. Não consegue mais colocá-lo na boca com aquela mão que está visivelmente perfeita. É mal. É difícil assimilar quando temos que explicar e vivenciar o processo.
Alzheimer é eu estar falando para vocês da síndrome. Mal de Alzheimer é o que ele deve sentir ao perceber que está perdendo a si mesmo. Que sua mão já não consegue acertar a boca, mesmo que se aproxime do rosto. Que sua visão está perfeita mas se cérebro não recebe informações que ela envia. Que ele errou o prato com o garfo várias vezes, e os netos estão fingindo não ver. Deve ser mal lembrar que o tempo é tão curto agora entre perceber cada função desativada e outras que ele nem vai perceber mais. Preso em si mesmo. Muita saúde e nenhum controle sobre ela. Sobre as emoções ou sobre a expressão delas. Isto é o Mal, o resto é informação sobre uma síndrome.
Não posso deixar de dar uma última distinção: visitá-lo duas vezes por semana como um beija-flor, é acompanhar à distancia a sindrome de Alzheimer que meu pai desenvolve. Estar com ele todo o tempo como minha mãe faz é conhecer em toda extensão o mal de Alzheimer. Meu carinho e admiração aos dois.
Cleydemir de Oliveira Santos
Psicólogo Clínico
Cleydemir de Oliveira Santos
Psicólogo Clínico
PS. Continuo sem saber a diferença entre um e outro; meu pai faleceu meses depois deste texto ser terminado.